junho 28, 2019

[Mês do orgulho] Ayumi e o seu relacionamento com a comunidade LGBTQ+


Não é novidade para ninguém o constante apoio de Ayumi à comunidade LGBTQ+ e o apelo que seu trabalho tem para esse público. Nesse mês do orgulho, é importante ressaltar alguns feitos da lenda que deram e continuam dando visibilidade a esse público num continente tão fechado e sobretudo num país (Japão) onde as minorias sofrem tanta discriminação.

Ayumi e seu trabalho com membros da comunidade LGBTQ+

Durante toda sua carreira, Ayumi trabalhou com profissionais de grande renome e abertamente assumidos sobre sua orientação sexual. Alguns exemplos são: o fotógrafo Leslie Kee, com quem Ayumi trabalha desde o álbum Secret; seu antigo estilista, Alvin Goh; seu produtor e backing vocal Timothy Wellard (conhecido como Timmy), figura recorrente em seus clipes e shows.

Ayumi e Timmy nos bastidores do clipe BRILLANTE (2011)

A dançarina e atual coreógrafa de sua turnê, Lico, é uma das integrantes da equipe mais queridas pelos fãs e pelo público geral. Lico é uma mulher trans que chegou a compor a equipe de dança de Ayumi até 2007 e, após alguns anos, realizou sua transição e voltou a re-integrar a equipe. Foi selecionada como uma das lead-dancers nas turnês Premium Showcase (2014), Cirque de Minuit (2015) e Made in Japan (2016), em 2017 não participou dos shows devido a problemas de saúde mas retornou em seguida, dessa vez como coreógrafa principal dos shows. Além disso, contracenou com Ayumi no clipe de XOXO (2014). 

Ayumi contracenando com Lico (2014)

Referências em seu trabalho

Mas o engajamento de Ayumi não está restrito a apenas a trabalhar com profissionais do meio. Durante diversas vezes, ela trouxe para seus shows e clipes referências à comunidade, algumas vezes de maneira explícita e outras de maneira mais implícita. Esse é reconhecido como um dos motivos de alguns fãs deixarem sua fã-base por não concordarem com seu engajamento político. Uma das primeiras vezes que isso ocorreu, foi no clipe de GREEN (2008), onde Ayumi encarna um sugestivo romance lésbico com a atriz Saito Midori.

Ayumi contracenando com a atriz Saito Midori (2008)
Já em 2010, Ayumi surpreendeu o público e a crítica com o clipe de Lady Dynamite, que se passa numa boate gay, rendendo icônicas cenas como a do banheiro (rs). O clipe não foi bem visto por alguns e foi inclusive motivo para que certos sites deixassem de acompanhar a carreira de Ayumi. Uma pena, não?

Bastidores do clipe de Lady Dynamite (2010)

Em 2012, Ayumi trouxe talvez a mais significativa contribuição para a comunidade LGBTQ+. How beautiful you are foi o primeiro single de seu álbum Party Queen (2012). A canção foi utilizada como tema do dorama 最後から二番目の恋  e o quê chamou atenção do público geral foi o seu clipe. Pela primeira vez um artista do mainstream japonês utilizou beijos gays em um clipe. A música foi escolhida como o tema da Tokyo Pride Parade devido a visibilidade, até então inédita, dada à comunidade. Os casais que aparecem no clipe são casais da vida real. Ao ser questionada sobre a escolha da música para a parada, Ayumi respondeu que estava extremamente feliz pois desde muito jovem frequentava o distrito de Nichome (um "distrito gay" em Shinjuku).

Cena do clipe how beautiful you are (2012)

Declarações

Em 2017, Ayumi publicou um texto em suas redes sociais explicitando sua chateação sobre a forma como o Japão trata as minorias, em tradução livre do AyuTrollada:

"E hoje encontrei uma amiga de longa data, e a conversa com ela me deixou sem saber o que dizer. Algo que me deixou pensativa e chateada como ontem à noite, quando voltei pra casa, e está até agora latejando na minha cabeça.

É sobre o porquê de o Japão ter tanta dificuldade para entender as minorias. Por exemplo, a minoria sexual referente ao público LGBT, ou a fala de uma autoridade feminina numa sociedade dominada pelos homens ser considerada opinião da minoria.

Sendo assim, eu, enquanto parte da minoria, vou continuar afirmando: ser minoria não significa ser fraco; e ser maioria não significa ser forte.
Vence quem sorri!(****) Vamos sorrir e sorrir!""

A declaração foi motivo de comemoração por muitos fãs que sempre viram Ayumi como um dos pilares na luta contra a LGBTQfobia no continente.

Nesse ano (2019), Ayumi publicou no instagram um texto de uma amiga referente as recentes leis japonesas para retirada da opção "sexo" nos formulários de admissão do ensino médio em algumas províncias japonesas, em tradução livre do Ayutrollada:

"Minha amada Risato compartilhou esta linda postagem, e peço permissão para fazer o mesmo. Leiam, por favor.

Tempos atrás, minha amiga murmurou com um suspiro: "queria poder assinalar a opção do meio...".
Ela é transgênero, e sente um desconforto tão grande sempre que vê o campo 'sexo' em seus documentos que não tenho palavras para descrever. Ela não fez alteração nos documentos, e apesar de fazer uso de hormônios, o corpo continua com aspecto masculino.

Formulários sem este campo preenchido não são aceitos por estarem 'incompletos', e caso marque a opção 'masculino', estará negando o fato de ser mulher. Segundo ela, "é horrível, como se dissesse a mim mesma 'você não é normal'".

Na primavera de 2020, o campo 'sexo' vai deixar de existir nos formulários para o exame de admissão no ensino médio, e em 14 províncias (como Kanagawa e Fukuoka) ele já não existe. Justamente por 'respeito' às minorias sexuais.

E se pararmos para pensar, não há a menor necessidade dele nesses formulários, porque o objetivo do vestibular é selecionar os alunos por sua capacidade; se a pessoa tem condições de ser aprovada, o gênero não influi em nada. Além disso, a abolição deste campo pode ser o fim de um tormento desnecessário para aqueles que se sentem desconfortáveis com seus corpos.

Mas vamos pensar um pouquinho: será que o 'respeito' se limita a esta mudança?
Aquela amiga de quem eu falei no início da postagem me contou que quase nunca ia à escola, e é muito provável que a razão disso não seja apenas o campo 'gênero'.

A sociedade em que vivemos nos divide apenas em 'masculino' e 'feminino'. Nas escolas, em particular, os banheiros, boletins, documentos emitidos pelos instrutores dos clubes, uniformes, o horário da educação física... Em vários pontos está implícita a ideia de que todos se dividem em 'masculino' e 'feminino'.

Se conversando com uma amiga eu pergunto 'já tem namorado?', já está claro o meu pré-julgamento de que ela é heterossexual e namoraria um homem; e caso ela não se encaixe neste senso comum imposto pela sociedade, a pergunta poderia lhe causar grande desconforto.

A mudança dos formulários, por si só, não vai mudar a sociedade, mas pode levá-la a se questionar se o suposto 'padrão' é válido para todas as pessoas e até a respeitar as diferenças. Esta forma de pensar, aliás, não se aplica apenas à questão do gênero, mas a qualquer outro assunto.

Logo chegará o dia em que diremos 'homem, mulher; seja o que você bem entender. É divertido'.
A sociedade não muda por acaso; isso só acontece porque nós é que mudamos.
Texto: @enmami000
O que podemos fazer em nome deste 'respeito'? Deixem suas opiniões nos comentários!

#Exame de admissão do ensino médio
#Gênero
#Identidade de gênero
#Colagem
#Collageartwork
#Vestibulando
#Digitalcollage
#Escola
#Ensino médio
#Igualdade de gênero"

Tokyo Pride Parade de 2018

No ano de 2018, Ayumi foi selecionada como a principal atração da Tokyo Pride Parade. Uma verdadeira celebração da diversidade, a parada ocorreu no dia 6 de maio e os show foi totalmente gratuito, Ayumi não recebeu nenhum cachê para realizá-lo. Em suas redes sociais, Ayumi agradeceu o convite e mostrou entusiasmo para o evento.

Ayumi nos bastidores do evento (2018)
Nesse mês da diversidade, achamos importante trazer um pouco de toda a visibilidade que Ayumi deu à comunidade LGBTQ+. Certamente, ela é uma das artistas japonesas mais ativas nessa luta e, felizmente, sabe utilizar de seu nome e exposição para trazer temas importantes como esse para a sociedade japonesa.


Obrigado a todos que leram!
  

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